SÃO PAULO – Do primeiro pregão do ano até a última semana, quando o Ibovespa teve a pior pontuação de fechamento de 2021, a Bolsa brasileira havia caído 11,9%. A realidade de quem investe em ações hoje é lidar com altas robustas em um dia e quedas expressivas no outro, num vaivém que dificulta conseguir rentabilidade.
Mas será que, diante desse movimento, é possível dizer a Bolsa está barata?
Os estrategistas da XP calculam que a relação preço sobre lucro (P/L), que mede em quanto tempo o investidor consegue retorno sobre o investimento, está sendo negociado em 8 vezes, com um desconto de 28% em relação à média desse indicador nos últimos 15 anos (11,2 vezes). A análise mostra que as empresas do setor de commodities estão ajudando a baratear o índice. Excluindo essas companhias, a relação preço/ lucro sobe para 12,3 vezes.
“Ou seja, o Ibovespa como um todo é barato, mas quando tiramos commodities não parece tão barato”, afirmam Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP. Recentemente, a XP revisou suas projeções do Ibovespa para 123 mil pontos em meados do ano que vem.
O Bank of America, por sua vez, cortou sua recomendação para as ações brasileiras, dizendo que a perspectiva de juros mais altos na principal economia da América Latina deve pesar sobre o crescimento econômico e pode interromper a migração doméstica em direção a investimentos considerados mais arriscados.
“Os valuations se tornaram mais atraentes, mas a história de Brasil carece de triggers [catalisadores]”, afirma o BofA.
Para o Morgan Stanley, os preços atuais das ações refletem preocupações dos investidores sobre a sustentabilidade do lucro das empresas, especialmente diante de um cenário macroeconômico cada vez mais desafiador. Para os analistas, apesar da baixa deste ano e ainda que estejam descontadas, as ações ainda não oferecem um risco-retorno atraente de maneira geral.
“O valuation atual sobre os múltiplos é bastante influenciado pela alta rentabilidade histórica dos setores produtores de commodities”, afirmam os analistas. Entre os setores que oferecem melhor risco-retorno, além de commodities, o Morgan Stanley destaca empresas defensivas, que protegem o investidor em caso de queda da Bolsa, e bancos de varejo.
“À primeira vista, o mercado de ações brasileiro a 8,5 vezes parece estar atraente do ponto de vista histórico. No entanto, a sustentabilidade da recuperação dos ganhos domésticos e a recorrência dos lucros vinculados às commodities nos próximos trimestres serão elementos-chave a serem monitorados, antes de fazermos uma avaliação final”, afirma o Morgan Stanley.
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O cenário macroeconômico turbulento relativiza o “barateamento” da Bolsa. “A pouca visibilidade do que vai de fato acontecer com a PEC dos precatórios, Teto dos Gastos, também gera insegurança se o mercado vai ficar mais avesso a riscos e diminuir exposição a equities”, afirma Isabel Lemos, gestora de ações da Fator.
“Se excluíssemos a questão política e fiscal e olhássemos para o micro, vendo a saúde das empresas em si e analisando os resultados dos balanços, podemos dizer sim que a Bolsa está barata”, afirma Fernanda Melo, ex-sócia da HCI e Invest e planejadora financeira.
Investidores domésticos têm vendido ações em meio à crescente preocupação com a política fiscal do país e ao agressivo aperto monetário do Banco Central. Mas esse movimento começou a atrair estrangeiros, com os valuations perto do menor nível em uma década.
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Investidores internacionais ingressaram com R$ 12,4 bilhões em ações brasileiras no mês passado até 29 de outubro, o maior valor líquido mensal desde junho, excluindo potenciais fluxos via ofertas de ações, segundo dados compilados pela Bloomberg. Na primeira semana de novembro, até a última quinta-feira, as compras superaram as vendas em R$ 1,59 bilhão.
Para a Mirae Asset Global Investments, parte desse movimento de compra estrangeira é resultado de investidores que reduziram a exposição à China após a crise do setor imobiliário no país.
O atual valuation do Ibovespa representa cerca de metade do índice Euro Stoxx 50, uma referência da zona do euro, e cerca de um terço do S&P 500.
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Para estrategistas do JPMorgan, o mercado brasileiro está chegando a um piso, o que pode oferecer o melhor ponto de entrada “que encontraremos por um tempo”.
“A Bolsa está barata, mas a gente vai ter um ano [de 2022] muito incerto com esse aumento de prêmio de risco dos ativos locais pela incerteza fiscal estar piorando. Para os investidores comprarem, precisa ter uma estabilização desse movimento”, conclui Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch.
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