SÃO PAULO – O setor automotivo vem enfrentando meses de muitas dificuldades diante do avanço da pandemia. No início de 2020, a produção chegou a cair 99%, e o mercado automotivo encerrou 2020 amargando o maior tombo em vendas em cinco anos: baixa de 26,2%.
Se em um primeiro momento havia a expectativa de um 2021 de retomada nas vendas, ela não se concretizou de fato: embora o primeiro semestre tenha registrado números maiores do que os do mesmo período do ano passado (as vendas de carros tiveram alta de 32,8%), fechamentos de fábricas, falta de peças e preços mais altos ainda assombram o setor.
Entre as montadoras que ficaram períodos paralisadas em 2021 estão Chevrolet, Volkswagen, Nissan, Toyota, Renault e Honda, e além das fabricantes de caminhões Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Ônibus, Scania e Volvo.
Os anúncios oficiais de paralisação temporária foram feitos em meados de março, mas de lá para cá não houve uma consolidação de retomada e as expectativas de melhora estão sendo adiadas.
Entre os principais problemas, há a pandemia e as restrições de circulação e econômicas causadas por ela que impactam os consumidores de forma direta; e a falta de peças ao redor do mundo, especialmente de semicondutores, está afetando a produção de novos carros, desacelerando mesmo todo o processo de fabricação.
O InfoMoney vem acompanhando a situação do setor há alguns meses e explicou com mais detalhes essa dinâmica complexa em uma reportagem recente.
É verdade que em um aspecto o contexto vem apresentando uma melhora. De recorde de mortes em 24 horas em abril para hoje o país ter cerca de 45,5% da população vacinada com a primeira dose.
Porém, essa melhora não é suficiente para impulsionar o setor para a retomada: os efeitos econômicos no bolso dos consumidores ainda impactam as decisões de compra, como mostra uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNI): um em cada três brasileiros pretende consumir menos bens e serviços em 2021. Outra pesquisa, essa da consultoria EY, mostra que 49% dos brasileiros precisaram buscar recursos financeiros extras durante a pandemia.
Além disso, a normalização da produção está longe de acontecer. “O mercado não espera uma normalização na produção antes do ano que vem”, afirma Raphael Galante, economista que atua no setor automotivo há 14 anos e consultor na Oikonomia.
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“Em um primeiro momento a expectativa era uma retomada do fluxo de produção no segundo semestre, mas o problema, que é mundial, vem se estendendo”, complementa Milad Kalume Neto, diretor de novos negócios, da consultoria automotiva Jato Dynamics.
Alta nos preços
De fato, do ponto de vista de negócios, a situação é complexa e as montadoras e fabricantes de veículos estão adotando diversas estratégias para contornar o momento. Uma delas é apostar nos carros por assinatura, que cobram um valor fixo por mês dos consumidores, em uma espécie de aluguel que dura de um a três anos, na média (o InfoMoney comparou a assinatura com o financiamento).
Para o cliente, o principal efeito desse contexto, no entanto é a alta de preços generalizada: nos carros novos e seminovos.
Diante da escassez global de peças e componentes, a decisão das montadoras foi direcionar os poucos materiais disponíveis para a produção de automóveis mais caros. De acordo com levantamento da consultoria Jato Dynamics, 68% dos carros vendidos no País atualmente custam acima de R$ 70 mil, enquanto os veículos abaixo desse valor representam os demais 32%.
Ainda, um estudo recente da Kelley Blue Book Brasil (KBB), consultoria automotiva, mostra que os carros seminovos (que têm de três a quatro anos de uso) subiram quase 10% no primeiro semestre deste ano. Em relação aos carros novos, a variação média de preço foi de alta de 4,3% no mesmo período.
Compare as opções na faixa dos R$ 60 mil
Considerando o cenário atual de altos custos, o InfoMoney pediu à KBB uma comparação dos carros que estejam disponíveis pela faixa de preço de R$ 60 mil – que se encaixam na porcentagem de carros que custam menos que a maioria dos disponíveis hoje.
O estudo conta com cinco opções de carros novos e cinco opções de seminovos e usados (de mais de quatro anos de uso) para que o consumidor possa avaliar e considerar as opções de mercado.
A KBB utiliza tecnologias de análise de dados e Big Data para produzir os levantamentos de precificação de veículos novos e usados.
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O processamento é realizado por um algoritmo alimentado semanalmente por uma base com mais de 800 mil informações de preços de diferentes fontes do mercado que a consultoria possui.
Veja algumas opções carros novos e seminovos nessa faixa de preço.
Carros novos
*Fotos ilustrativas dos modelos
Carros seminovos e usados
*Fotos ilustrativas dos modelos
Como escolher entre novo e seminovo?
Dado o cenário e os exemplos de veículos disponíveis no mercado, a pergunta que fica é: qual é a melhor opção entre novo e seminovo/usado? O consenso entre os especialistas é de que a definição vai depender das necessidades de cada consumidor.
“A melhor opção é algo subjetivo. Como decidir: primeiro escolher o modelo e a versão de desejo ou necessidade. Feito isto, defina se prefere um carro 0Km ou se um seminovo/usado atende. Verifique, então, a disponibilidade de um carro novo e avalie o tempo de espera e os custos. O mercado de seminovos/usados, por outro lado, não há tempo de espera, basta fazer o negócio”, diz Kalume Neto.
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Ele alerta que o consumidor que tiver urgência para comprar um carro deve buscar os usados, porque a espera pelo novo pode ser de meses e os custos atuais estão altos. “Do outro lado, o perfil mais conservador que pode aguardar para um novo carro, o ideal é esperar mais para a compra”, avalia o executivo da Jato Dynamics.
“A verdade é que a melhor opção vai combinar o que o consumidor quer com o que cabe em seu bolso. Não tem regra”, diz Galante.
A questão que o consumidor precisa ter em mente, no entanto, é que essa normalização de produção ainda vai levar tempo para acontecer.
“Só no ano que vem, nada muda do dia para a noite. E não vejo nenhum sinal no curto prazo de redução de preços. Então, precisa por na ponta do lápis, o que melhor vai te atender agora”, diz o economista.
Segundo ele, o perfil mais adequado ao novo e seminovo/usado tem relação forte com as gerações.
“Algumas pessoas preferem trocar de carro e pegar um novo, só delas. E está tudo bem. Só precisa avaliar os custos nessa troca e também se agora é o momento de trocar ou se pode esperar. Por outro lado, a grande maioria dos jovens é indiferente em relação a ser novo ou não. Querem o carro para usar como serviço”, diz.
A KBB também fez uma análise do ponto de vista do cliente. Segundo a empresa, postergar a compra do próximo carro pode fazer com que o consumidor se depare com preços ainda mais altos do que os atuais – pelo menos se o desejo é comprar ainda neste ano.
“Assim, se o consumidor está disposto e preparado a trocar de carro, fazê-lo agora pode ser mais interessante, inclusive por conta do horizonte de aumento da taxa Selic, que pode provocar o aumento dos juros de financiamento ao consumidor”, pontuou a KBB no estudo enviado ao InfoMoney.
Segundo a consultoria, em condições normais, carros usados costumam oferecer uma relação de custo-benefício mais atraente, uma vez que há mais ofertas de veículos mais bem equipados e de categorias superiores pelo preço de modelos novos.
“Contudo, com os aumentos de preços que estamos testemunhando, alguns modelos seminovos, com até um ano de uso, podem custar mais caros do que seus equivalentes 0 km. Este fenômeno é puramente conjuntural, uma vez que se trata do benefício da ‘pronta-entrega'”, pondera a KBB.
É um bom momento para venda?
Do outro lado do balcão, o consumidor que tiver um carro seminovo ou usado e quiser vender, esse pode ser um ótimo momento, de acordo com os especialistas.
“Vender o carro agora é uma boa opção nesse momento de alta nos preços. Porém, é importante avaliar o motivo da venda: para levantar um dinheiro pode uma solução, mas se o consumidor quer comprar outro carro, deve-se lembrar que os preços também estão subindo”, pondera.
Galante também entende que agora é um excelente momento para vender o seminovo. “Mas sempre faça uma base de preço comparando com o preço inicial que você pagou. Apesar da alta nos preços do seminovos não é viável subir o preço para algo fora da realidade, já considerando a depreciação que o carro sofreu nos anos que ficou com você”, diz o economista.
“Por exemplo, há dois anos pagou R$ 50 mil? Com muita sorte hoje dá para vender por perto desse mesmo valor e não perder dinheiro. Mas depende muito da condição do carro, do modelo entre outros pontos. Mas o carro hoje é um ótimo ativo de troca, o mercado está aquecido com a falta dos novos”, explica.
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