Há menos de dois meses, anunciamos que o litro da gasolina já superava os R$ 7 em quatro estados do Brasil. Na última semana, essa marca chegou em seis estados brasileiros e bateu nos R$ 7,49 no Rio Grande do Sul. Não só a gasolina, mas o etanol mais caro do país é vendido no estado da região Sul, onde o preço do biocombustível atingiu os R$ 7 na última semana.
Os dados compilados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) são referentes aos dias 10 e 16 de outubro. Nesse ínterim, a gasolina "mais barata" (se dá para chamarmos assim) foi encontrada no Amapá, onde o litro custa, em média, R$ 5,51. Vale ressaltar que o estado da região norte é um dos três estados onde o valor ainda fica abaixo dos R$ 6. As outras localidades são Roraima (R$ 5,91) e São Paulo (R$ 5,99).
Em protesto contra os aumentos de preço, posto em SP vendeu gasolina a R$ 0,40 o litro em setembro — Foto: Divulgação
Em contrapartida, o valor do litro nas bombas passa dos R$ 7 no Rio de Janeiro, Tocantins, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Acre, além do Rio Grande do Sul, como já mencionamos.
O etanol também não fugiu do reajuste. Embora o litro do biocombustível ainda fique na faixa de R$ 5 em boa parte dos estados brasileiros, ele supera os R$ 6 em sete estados e bate nos R$ 7 em postos do Rio Grande do Sul.
Combustível 40% mais caro
De janeiro a outubro, a gasolina ficou, em média, 40% mais cara. Atualmente, seu valor médio nacional é de R$ 6,321. No começo do ano, esse preço ficava em R$ 4,622. Na prática, em janeiro, o dono de um Fiat Argo, por exemplo, pagava cerca de R$ 221,85 para encher o tanque. Hoje, para "completar", ele não gastaria menos de R$ 303,40.
Combustível foi considerado o principal vilão da inflação em agosto — Foto: Banco de Imagens
A nova alta de preços é decorrente do reajuste de 7% nas refinarias de petróleo. Em sua justificativa, a Petrobras alega que o aumento é um reflexo do fortalecimento do dólar e a valorização do barril de petróleo no exterior.
Como já noticiamos anteriormente, o combustível foi considerado um dos principais responsáveis por impulsionar a inflação, que atingiu 10,25% em 12 meses pelo índice do IPCA.
Risco de desabastecimento?
Associação das distribuidoras cogita possibilidade de desabastecimento de gasolina e diesel para novembro — Foto: Reprodução TV Globo
De acordo com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Combustíveis (BRASILCOM), no último dia 11, diversas distribuidoras de combustíveis filiadas à entidade receberam comunicados da Petrobras informando cortes nos pedidos de fornecimento de gasolina e óleo diesel para o mês de novembro. Em alguns casos, as reduções informadas pela petroleira chegavam a mais de 50% do volume solicitado para compra.
Por meio de um comunicado, a Petrobras informou que a demanda dos distribuidores por gasolina e diesel aumentou em 20% e 10%, respectivamente, em comparação ao mesmo período de 2019.
A empresa reiterou que, para novembro, "recebeu pedidos muito acima dos meses anteriores e de sua capacidade de produção". Desse modo, apenas com antecedência "conseguiria se programar para atender essa demanda atípica".
Petrobras afirma que houve uma demanda atípica por pedidos de fornecimento para novembro — Foto: Getty Images
Na visão de André Braz, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), isso é reflexo da recuperação econômica em 2021 frente ao tombo na produção no ano passado.
"Várias cadeias produtivas foram desmobilizadas durante a pandemia. A volta da atividade econômica durante a pandemia fez com que todo mundo procurasse o insumo necessário a sua escala produtiva repentinamente".
Situação transitória
Em termos de comparação é algo parecido com que aconteceu na indústria automotiva mundial, com escassez de semicondutores. Todavia, o mestre em economia não acredita que será necessário aumentar a escala produtiva dos combustíveis repentinamente: "Isso é transitório enquanto a atividade se recupera".
Atraso ou falta de combustíveis devem manter preço do litro nas alturas — Foto: Wikimedia Commons
Mesmo que momentâneo, a alta demanda de pedidos para a petrolífera poderá levar a um atraso temporário na entrega, na visão do especialista. "Não acredito que haja necessidade de investimentos repentinos. Porém, isso pode criar alguma ineficiência no atendimento. Mas seria transitória, não permanente."
De todo modo, André afirma que esse é um sinal de alerta, dado que países que querem crescer, precisam pensar em suas bases energéticas. "Da mesma forma que a energia elétrica vem nos desafiando nesse ano, os combustíveis também. Esse é o nosso maior desafio no momento e é o que vem mais pressionando a inflação."
Atrasos na entrega para distribuidores poderão sustentar os preços nas alturas. Mas, além disso, os preços são orientados pelo barril do petróleo e pela desvalorização do real. Com a crise do teto de gastos, o dólar bateu R$ 5,71 nesta quinta-feira (21). Já o barril do petróleo chegou US$ 80 pela 1ª vez no ano.
Somado a situação interna do país, desvalorização da moeda e barril do petróleo mais caro deixam o preço do combustível mais caro — Foto: Autoesporte
Entidade vê desabastecimento para novembro
Para Rodrigo Zingales, diretor executivo da Associação Brasileira dos Revendedores de Combustíveis Independentes (AbriLivre), o desabastecimento para as próximas semanas é eminente. O executivo afirma que os revendedores de postos de bandeiras brancas serão os mais afetados, uma vez que a parcela de combustível fornecido a distribuidoras independentes é menor.
Portanto, esse grupo estará mais suscetível à volatilidade do mercado e ao desabastecimento. "A chance é grande de, principalmente, pequenas distribuidoras, principalmente, não terem combustível em novembro. Estamos apurando o que houve na Petrobras: se aumentaram os pedidos e qual a capacidade de produção e a capacidade ociosa da empresa".
Com dólar e barril de petróleo mais caro, entidade sugere mudança na política de preço da Petrobras — Foto: Wikimedia Commons
Para a Associação, uma das possíveis soluções imediatas é alterar a política de preços da fornecedora, para que dependa menos do mercado externo. "Estamos vendo junto ao governo para que ele intervenha na Petrobras para mudar a politica de preços, pelo menos nessa época de dólar alto e barril de petróleo mais caro". Caso contrário, o cliente deverá pagar (ainda mais) na hora de encher o tanque.
Em nota, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) reforça que "o alinhamento de preços domésticos ao mercado internacional é o mecanismo necessário para garantir o abastecimento do mercado brasileiro de combustíveis". Assim, pondera que o desalinhamento de preços frente ao mercado externo pode impactar no suprimento de produtos.
Veja a seguir o preço médio e o valor mais caro da gasolina por estado
Preços por estado
Estado/UF | Preço médio gasolina | Preço máximo gasolina |
Acre | R$ 6,664 | R$ 7,3 |
Alagoas | R$ 6,312 | R$ 6,894 |
Amapá | R$ 5,514 | R$ 5,83 |
Amazonas | R$ 6,268 | R$ 6,95 |
Bahia | R$ 6,238 | R$ 6,899 |
Ceará | R$ 6,499 | R$ 6,79 |
Distrito Federal | R$ 6,658 | R$ 6,99 |
Espírito Santo | R$ 6,319 | R$ 6,679 |
Goiás | R$ 6,753 | R$ 6,999 |
Maranhão | R$ 6,215 | R$ 6,499 |
Mato Grosso | R$ 6,295 | R$ 7,047 |
Mato Grosso do Sul | R$ 6,183 | R$ 6,66 |
Minas Gerais | R$ 6,587 | R$ 7,179 |
Para | R$ 6,33 | R$ 6,95 |
Paraíba | R$ 6,163 | R$ 6,599 |
Paraná | R$ 6,081 | R$ 6,99 |
Pernambuco | R$ 6,186 | R$ 6,979 |
Piauí | R$ 6,936 | R$ 7,159 |
Rio de Janeiro | R$ 6,785 | R$ 7,399 |
Rio Grande do Norte | R$ 6,853 | R$ 6,999 |
Rio Grande do Sul | R$ 6,61 | R$ 7,499 |
Rondônia | R$ 6,397 | R$ 6,76 |
Roraima | R$ 5,917 | R$ 5,99 |
Santa Catarina | R$ 6,069 | R$ 6,549 |
São Paulo | R$ 5,99 | R$ 6,899 |
Sergipe | R$ 6,45 | R$ 6,693 |
Tocantins | R$ 6,496 | R$ 6,769 |
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Preço da gasolina chega a R$ 7,49, etanol bate nos R$ 7 e risco de desabastecimento é cogitado - Auto Esporte
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