A alta nos preços do petróleo no mercado internacional levou a Petrobras a praticar o nono aumento do ano no valor do litro da gasolina vendida para as refinarias. Provocada por fatores externos, a alta coincide com um momento de maior abertura da economia e elevação do consumo interno e externo. Os sucessivos recordes na cotação da commodity têm sido alavancados pelo aumento da demanda pelos combustíveis, devido ao avanço da vacinação e à retomada de atividades presenciais em vários países.
Somente este ano, o preço da gasolina vendida nos postos subiu 28,21%, já o etanol 35,42%, o diesel 25,11%, e o GNV 25,72%. Para especialistas, o preço deve continuar subindo nos próximos meses, e em algumas cidades, como no Rio de Janeiro, superar o patamar dos R$ 7, por litro, nos postos.
No Brasil, o consumo também registrou aumento, embora ainda em patamares mais baixos do que os registrados em 2019, ano anterior à pandemia. As vendas totais de combustíveis por distribuidoras subiram 12,1% em junho na comparação com igual período do ano passado, atingindo cerca de 11,4 bilhões de litros, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). No acumulado do ano, as vendas tiveram alta de 7,9% em relação ao mesmo período de 2020.
Com este cenário, somente neste ano a gasolina acumula uma alta de 51% nas refinarias. Desde janeiro, a Petrobras já aumentou o preço nove vezes. No último reajuste, o preço médio por litro do combustível vendido às distribuidoras passou de R$ 2,69 para R$ 2,78. O avanço foi de R$ 0,09 ou 3,34% por litro.
A contribuição do preço da Petrobras para o preço na bomba é de 33%, segundo dados da ANP. Por isso, os preços praticados nas refinarias pela Petrobras são diferentes dos percebidos pelo consumidor final no varejo, já que ainda são acrescidos de impostos federais e estaduais, custos para aquisição e mistura obrigatória de etanol anidro (15,7%); além de custos e margens das companhias distribuidoras e dos revendedores.
Para Paulo Feldmann, o professor de economia da FEA-USP, a oferta é ainda menor do que a demanda, e o fato de países mais desenvolvidos estarem se recuperando economicamente está intrinsecamente ligado à alta dos preços.
— A reabertura e a retomada da economia, em países como Estados Unidos e China, estimulou a demanda internacional do petróleo, o que pressiona o preço no mercado internacional. Mas este crescimento pode não ser tão sustentável no longo prazo — explica.
Ele pondera, no entanto, que as previsões de crescimento e de retomada da economia em vários países do mundo no pós-pandemia estão sendo reduzidas, o que pode levar a uma redução ou a uma estabilização da demanda no médio prazo.
Feldmann acrescenta ainda a importância das políticas de "descarbonização", ou seja, desestímulo ao uso de fontes de energia que usam carbono, e a priorização de fontes de energia mais limpas, como incentivo à utilização de carros elétricos, especialmente nos Estados Unidos e em países europeus.
Impacto do dólar
Além disso, no Brasil, a cotação do real em relação ao dólar afeta diretamente o valor do combustível. Com a valorização da moeda norte-americana em detrimento do real, os preços sobem.
— Até antes da pandemia, estávamos com o dólar abaixo dos R$ 4. De repente, a moeda superou R$ 5. E o que custa US$ 70 chega ao Brasil cinco vezes mais caro — afirma o professor.
O que diz a Petrobras
A Petrobras informou, por meio de nota, que "os preços praticados refletem o valor dos produtos no mercado global. De acordo com a Petrobras, a empresa "busca evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais", mas segue o equilíbrio com o mercado internacional e acompanha as variações do valor dos produtos e da taxa de câmbio, para cima e para baixo.
A Petrobras afirma que busca evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais. "Portanto, o reajuste de preço da gasolina aplicado a partir de 12/08 é motivado por uma mudança de patamar dos preços internacionais de referência e da taxa de câmbio", acrescenta.
— O petróleo é um recurso finito, e o preço vai aumentar no médio e no curto prazos. Com a pandemia um pouco mais controlada e a retomada das atividades, o preço subiu e ainda vai subir um pouco mais. No longo prazo é que pode haver reversão desta tendência — avalia Rubens Moura, professor de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
Aumento real para consumidores cinco vezes acima da inflação
Segundo analistas, os preços sobem também porque, no mundo, a oferta de petróleo está reduzida, já que os países produtores ainda estão segurando a produção. A cotação do petróleo alcançou seu maior patamar em seis anos esta semana e, segundo analistas, poderá levar a novos reajustes na gasolina, no diesel e no gás.
André Braz, coordenador do IPC do FGV- IBRE, avalia que em algumas cidades, como no Rio Janeiro, em que postos já cobram R$ 6,899 pelo litro, o combustível pode superar a barreira dos R$ 7 até o fim do ano.
— A média de aumento dos combustíveis foi de 40,5%, em 12 meses, ou seja, cinco vezes a inflação acumulada neste período. Foi um aumento real brutal. E o cenário no mercado internacional ainda mantém a pressão sobre o preço do petróleo — observa Braz.
Gastos do consumidor
A disparada dos preços tem impactado muito os consumidores. Thales Almendro, de 31 anos, gasta mais de 50% de seu salário com combustível. Morador da Vila da Penha, na Zona Norte do Rio, ele visita três vezes por semana seu filho de 1 ano, que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O percurso é de cerca de 90km.
— A locomoção é algo que não consigo economizar. E já tenho usado mais a bicicleta para distâncias menores — explica.
Paulo Miranda Soares, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), aposta em novas altas por causa da desvalorização do real e da política de preços adotada pela Petrobras.
— A gasolina nas refinarias já subiu mais de 50% só este ano, e os postos não conseguiram repassar, para não perder clientes. Além disso, quando se pensa na paridade internacional de preços, a Petrobras está com defasagem. O consumidor brasileiro acaba, então, tendo que pagar essa conta — avalia Soares.
Com relação aos preços percebidos pelo consumidor, a Petrobras ressaltou que "são diferentes dos valores praticados nas refinarias". Diz a empresa que "até chegar ao consumidor são acrescidos tributos federais e estaduais; custos para aquisição e mistura obrigatória de etanol anidro; além dos custos e margens das companhias distribuidoras e dos revendedores". A empresa acrescenta que "a contribuição do preço da Petrobras para o preço na bomba passou a ser de R$ 2,03 por litro em média, referente à mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro". E reforçou que, segundo dados da ANP, o preço praticado pela Petrobras corresponde a cerca de um terço do preço nas bombas.
Peso do etanol na mistura com a gasolina
O presidente da Fecombustíveis explica que ainda há outro fator que tem provocado a alta da gasolina: a variação de preço do etanol anidro, que representa 27% da fórmula do combustível. Apesar de a maior parte do anidro usado no Brasil ser nacional, o recente fim da desoneração para importação do produto pode estar ajudando a pressionar os valores finais.
— Também é importante destacar que o etanol anidro já subiu 75% neste ano. Com o baixo período de chuvas, a produção da cana-de-açúcar teve queda — acrescenta Soares.
CONFIRA OS VALORES:
PREÇOS DE AGOSTO (semana de 1º a 7 de agosto de 2021)
Preço médio dos combustíveis praticado no Brasil
Gasolina comum - R$ 5,853/litro
Etanol hidratado - R$ 4,339/litro
Diesel - R$ 4,598/litro
GNV - R$ 4,007/m³
Preço médio dos combustíveis praticado na cidade do Rio
Gasolina comum - R$ 6,407/litro
Etanol hidratado - R$ 5,356/litro
Diesel - R$ 4,459/litro
GNV - R$ 3,969/m³
PREÇOS DE JANEIRO (semana de 3 a 9 de janeiro de 2021)
Preço médio dos combustíveis praticado no Brasil
Gasolina comum - R$ 4,565/litro
Etanol hidratado - R$ 3,204/litro
Diesel - R$ 3,675/litro
GNV - R$ 3,187/m³
Preço médio dos combustíveis praticado na cidade do Rio
Gasolina comum - R$ 4,973/litro
Etanol hidratado - R$ 4,039 /litro
Diesel - R$ 3,756/litro
GNV - R$ 3,008/m³
AUMENTOS SUCESSIVOS
Variação dos combustíveis no Brasil em 2021
Gasolina comum - 28,21%
Etanol hidratado - 35,42%
Diesel - 25,11%
GNV - 25,72%
Variação dos combustíveis na cidade do Rio em 2021
Gasolina comum - 28,83%
Etanol hidratado - 32,60%
Diesel - 18,71%
GNV - 31,94%
*Colaborou Alex Braga, estagiário sob supervisão de Danielle Nogueira
Preço dos combustíveis deve continuar a subir nos próximos meses e pode superar a barreira dos R$ 7, no Rio - Jornal Extra
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