Em julho, correu entre especialistas em criptomoedas uma tese alarmista: após um superaquecimento no primeiro trimestre e um solavanco nos meses seguintes, o bitcoin estaria prestes a conhecer um patamar de preço mais baixo.
Essa queda foi chamada por analistas estrangeiros, como Mati Greenspan, da Quantum Economics, de “capitulação”, do termo militar para a rendição de um exército; o mercado estaria se rendendo à ideia de uma expectativa de preço superestimada para a mais relevante entre as criptomoedas.
Mas, desde então, uma série de notícias positivas viraram aquele cenário do avesso. Algumas nem se confirmaram, como uma especulada aceitação de criptos pela Amazon, e outras não tinham relação com o bitcoin, como uma atualização da rede Ethereum.
Somadas ao anúncio de aportes por grandes fundos na Alemanha e à migração de mineradores expulsos da China, as novidades fizeram o bitcoin subir 37,13% e chegar a US$ 44,3 mil (R$ 232 mil) após três semanas, na quinta-feira (12), trocando a perspectiva negativa por um renovado otimismo entre especialistas.
Como chegamos até aqui?
Até a última semana de julho, a criptomoeda vinha há semanas flertando com preços abaixo de US$ 30 mil, muito aquém do recorde de US$ 65 mil (R$ 339 mil) registrado no início do ano. Dados sugeriam que o preço cairia mais, para perto de US$ 20 mil (R$ 104 mil), a resistência histórica que o bitcoin só superou no fim do ano passado.
“O preço ficou 'lateralizado' por muito tempo, sem romper os US$ 40 mil. Com a aversão ao risco provocada pela incerteza sobre a recuperação econômica global, o fluxo comprador caiu”, me explicou, há algumas semanas, o diretor de produtos e parcerias da Transfero Swiss, Safiri Felix.
A tese da “capitulação” fazia sentido, e essa perspectiva nem era necessariamente negativa; um bitcoin estabilizado em um preço menor, diziam os analistas, fortaleceria o investimento de longo prazo no ecossistema.
“Muitas contrapartes surgiram, os maiores bancos e fundos estão com estratégias para o segmento, e o setor de empréstimos lastreados em cripto tem US$ 55 bilhões nos cofres. Gosto mais do bitcoin a US$ 30 mil agora do que gostava em janeiro”, comentou à época Raymond Nasser, especialista em criptoativos da Inversa.
“É um bom momento para adquirir criptos e se preparar para a próxima subida. Até o fim do ano, acredito que o bitcoin vai se posicionar de novo em US$ 40 mil”, previu, também em julho, Mariana Palau, responsável pelo atendimento ao cliente na exchange BitPreço.
Eram leituras dissonantes do clima ruim que se instaurava. No início de julho, um indicador usado para estimar tendências de preços de ativos, chamado Bollinger, indicava que o bitcoin estaria perto de um ponto de inflexão.
“Os gráficos do bitcoin estão feios no momento”, escreveu Greenspan em uma newsletter em 16 de julho. “A inclinação descendente que se materializou dá a impressão de que as forças estão exigindo um novo teste em US$ 20 mil”.
Seria uma espécie de ajuste do “turning point” anterior, o da disparada de US$ 10 mil em outubro de 2020 para US$ 65 mil em abril deste ano, no embalo das adesões de grandes companhias globais, como Tesla, PayPal e Mercado Livre, e que resvalou em empresas brasileiras, como a Empiricus e o buscador de investimentos Yubb.
Mas no meio do caminho havia Elon Musk, o bilionário presidente da Tesla. Ele tem se notabilizado por estimular altas e baixas de criptos com opiniões publicadas no Twitter.
Em fevereiro, seu impulso foi para cima, quando a Tesla divulgou que havia investido US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões) em bitcoins em 2020 e que passaria a aceitar a cripto em pagamentos pelos carros.
Depois, em maio, o impulso foi para baixo, quando Musk voltou atrás naquela decisão porque, segundo disse, a cripto gastava energia demais no registro das transações, a mineração, responsável pela emissão de novos bitcoins.
Somado a renovadas ameaças de reguladores nos Estados Unidos contra o ecossistema do bitcoin e ao banimento de empresas de mineração pela China, em junho, o recuo da Tesla embalou uma forte queda.
De volta ao céu de brigadeiro?
Mas as novidades recentes alteraram os prognósticos e parecem antecipar um novo ciclo de alta – ou ao menos um piso mais baixo no curto prazo, entre US$ 38 mil e US$ 40 mil, caso os ventos mudem novamente.
Para Marcos Jarne, gerente (country manager) no Brasil da exchange mexicana Bitso, uma das maiores da América Latina, “Os fundamentos do bitcoin vêm ganhando força, e a cotação está em linha com o rebalanceamento global de preços. Quem opera com criptomoedas precisa olhar para o quadro geral; o bitcoin continuará a ser volátil, como todo ativo que evolui de reserva de valor para meio de troca”.
Thales Inada, especialista em criptoativos da Spiti, ressalta a recomendação de longo prazo no investimento em criptos. “Meu foco não é o curto ou o médio prazo; nesse horizonte, tudo pode acontecer. Mas sigo confiante na retomada de alta ainda para esse ano”, explica.
Há um mês, ele já creditava o momento ruim dos preços ao banimento dos mineradores na China: “Até 2021, quase 50% dos computadores que mineravam bitcoins estavam lá. Tivemos uma queda na força computacional da rede, que a desvaloriza e reflete no preço”.
Agora, sua leitura é de que o mercado se adiantou ao fato de que “Em breve, os mineradores [recentemente banidos da China] devem reativar suas máquinas em novos locais”.
Nasser, da Inversa, diz que “O dinheiro estava na retaguarda se preparando para entrar novamente. O ‘upgrade’ do Ethereum, que melhorou bastante o protocolo, e a entrada dos fundos institucionais alemães contribuíram”.
Segundo ele, nem mesmo o recente plano bipartidário nos EUA para ampliar o escrutínio sobre as criptomoedas deve abalar o momento: “O plano está uma bagunça, é um problema quando legisladores querem passar leis sobre o que nem chegam perto de entender. Os EUA têm muito a perder se declararem guerra contra a cripto”.
Nasser tem visão bastante otimista: “Minha perspectiva de longo prazo nunca foi alterada desde 2016: US$ 500 mil por bitcoin é o meu preço. No curto prazo, acho que podemos ultrapassar os US$ 70 mil antes do final do ano”.
Preço do bitcoin — Foto: Getty Images
Após alta, bitcoin atenua temor por ‘capitulação’ de preço e mira novo recorde - Valor Investe
Read More
No comments:
Post a Comment