Os esforços do governo de chinês para reduzir a produção de aço e os preços do minério de ferro, com o objetivo de controlar a inflação, podem beneficiar a produção brasileira. Caso haja uma desvalorização do minério, o Brasil poderá vender o produto de melhor qualidade, o que é vantajoso para a indústria do aço. Outra vantagem são os preços mais competitivos, mesmo com a recuperação do real frente ao dólar, vista nos últimas semanas, a moeda ainda está longe de retomar a níveis pré-coronavírus.
De acordo com o diretor de Estratégia da Belo Investment Research, Rafael Foscarini, o governo chinês vem adotando diversas medidas para controlar a inflação e uma delas é reduzir a produção de aço. Com isso, haveria um recuo na demanda por minério, fazendo com que os preços caíssem.
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Ainda segundo Foscarini, uma estratégia que vem sendo usada pelo governo chinês para ter mais controle sobre o mercado é a de fomentar e propiciar fusões e aquisições na indústria local e, consequentemente, reduzir os players e aumentar o poder de influência governamental.
“Se a indústria do aço na China tiver que reduzir a produção, existe a possibilidade de uma maior compra de minério de alta qualidade. Isso porque o produto possui maior nível de beneficiamento e pode agilizar o sistema de produção, contribuindo para redução dos custos. O Brasil, neste caso, pode ser beneficiado, já que produz um minério de alta qualidade quando comparado com outros países”, explicou.
Porém, com a demanda mundial aquecida pelo minério de ferro, devido à retomada da Europa e projetos de infraestrutura nos Estados Unidos e na China, a oferta do mineral continua restrita. Caso a política adotada pela China para reduzir a inflação não tenha sucesso, o Brasil também será beneficiado já que os preços do minério para a exportação são competitivos, mesmo com a valorização do real frente ao dólar observada nas últimas semanas.
“Mesmo que o câmbio tenha caído, e caia mais até o final do ano, ele ainda está mais favorável que a média dos países emergentes e pré Covid. Isso favorece que o minério fique mais barato no Brasil, estimulando as compras”, explicou Foscarini.
Estoque
O analista de investimentos da Mirae Asset Wealth, Pedro Galdi, explica que a China, como uma grande consumidora de commodities, mantém uma estratégia de reter grandes volumes de estoques estratégicos de produtos, como grãos, metais, petróleo, carnes, entre outros.
“Normalmente, quando os preços internacionais disparam e eles possuem grandes estoques, se utilizam de estratégia de passar a vender grandes lotes destes produtos para derrubar preços. Tem conseguido sucesso recente com preços de milho, soja e alguns metais, como cobre. No entanto, os estoques de minério de ferro estão baixos na China, então para tentar baixar o preço do minério de ferro, o governo está buscando interferir nas siderúrgicas e eventuais agentes de portos. Estão buscando o maior uso de sucata para produzir aço”.
Ainda segundo Galdi, o sucesso com aço e minério de ferro deve ser restrito. “Isto se baseia no baixo volume de estoque de minério de ferro no País e de que o uso de sucata é para aço voltado para infraestrutura (tipo construção) e não para máquinas, equipamentos e veículos. Já o petróleo segue em recuperação com a retomada da economia mundial e também será difícil para os chineses pressionarem o preço deste para baixo. Lembre que a China é uma grande comerciante e sabe bem lidar com as flutuações de preços de importação, quando lhe convém”.
O presidente do Conselho Empresarial de Mineração e Siderurgia da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), Adriano Espeschit, explica que toda vez que existe uma valorização dos preços do minério, o produto brasileiro é favorecido.
“Quando há aumento de preços, aumenta também a demanda por minério de pior qualidade, então o minério brasileiro, que tem qualidade superior, é mais demandado para corrigir. Isso é positivo para Minas. Logicamente, aqui também tem o minério de pior qualidade, que é exportado. Mesmo este nosso pior minério é melhor que alguns outros produzidos no mundo”.
Apesar das vantagens do minério nacional, a valorização dos preços pode estimular a retomada da produção em minas na China que estavam desativadas em função dos altos custos, o que pode ser prejudicial para as exportações do Brasil.
“Normalmente o custo de produção de minério na China é alto, mas, com o preço valorizado, pode haver a reabertura de minas que foram paralisadas quando o preço caiu. Quando os valores do minério estavam em torno de US$ 100 a tonelada, os custos giravam em torno de US$ 120 a US$ 130, causando prejuízos. Porém agora, com os preços em torno de US$ 200 e o custo próximo a US$ 150, a produção interna na China pode ser estimulada e cair à demanda mundial. É um processo moroso, que pode trazer impactos mais para frente”.
Preço do minério pode aumentar com o cenário na China - Diário do Comércio
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