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Saturday, July 3, 2021

Não é só no Brasil: preço da carne dispara no mundo inteiro e consumo cai até nos EUA - Jornal O Globo

LONDRES — Nos Estados Unidos, as vendas de carne em supermercados caíram mais de 12% em relação ao ano passado. Na Europa, a demanda geral por carne bovina deve cair 1% este ano. E na Argentina, que abriga uma das populações mais carnívoras do mundo, o consumo de carne bovina per capita caiu quase 4% desde 2020.

Embora alguns desses números possam parecer modestos, até mesmo um declínio tênue no consumo é uma raridade no mundo da carne. Até o surgimento da pandemia do novo coronavírus, no início de 2020, o setor registrava novos recordes a cada ano.

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Agora, assim como acontece no Brasil, a demanda está diminuindo em todo o mundo com a alta dos preços. E isso pode sinalizar o início de uma nova mudança em relação à preferência do consumidor pela proteína animal.

O maior desestímulo à demanda tem sido uma escalada implacável dos preços iniciada em outubro do ano passado, impulsionada pelo aperto no fornecimento global de ração animal e interrupções na cadeia de abastecimento provocadas pela pandemia.

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O indicador de preço global da carne das Nações Unidas subiu por oito meses consecutivos, a maior seqüência desde 2011, e está perto de um recorde de vários anos.

Ovos viram opção

O choque de preço chega em um momento em que os consumidores ainda estão lidando com as consequências econômicas da Covid, entre elas a inflação e o desemprego, forçando famílias do Brasil às Filipinas a comprar menos e optar por outras fontes de proteína, como os ovos, ou apenas encher seus pratos com carboidratos como arroz ou macarrão.

Para Eudelia Pena, de 48 anos, que mora em Nova York com o marido e um de seus três filhos, a carne se tornou um luxo, princiapalmente depois que ela perdeu o emprego:

— Comprava duas galinhas. Agora, só compro uma e divido ao meio.

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Os preços da carne bovina moída no varejo nos EUA subiram cerca de 6% desde antes da pandemia, enquanto os frangos inteiros tiveram alta em torno de  9% e as costeletas de porco saltaram 13%, para cerca de US$ 3,88 o quilo em maio, mostram dados do governo.

Dieta à base de vegetais

Nas crises financeiras anteriores, a demanda diminuiu, mas voltou a se recuperar. A diferença agora é o boom de alimentação à base de vegetais e leguminosas.

Mais consumidores estão optando por renunciar à carne por causa de preocupações com o meio ambiente, bem-estar animal e saúde.

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As forças gêmeas da inflação e das tendências alimentares estão agora se unindo para sinalizar uma mudança sísmica para longe do consumo de carne no mundo.

— A carne está sob ameaça como possivelmente nunca antes — disse Tom Rees, gerente de indústria do Euromonitor International, de Londres, especializado em pesquisa de mercado.

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Veja o caso de Mario Cruz, um professor de escola pública que mora ao norte de Manila, na província de Bulacan, nas Filipinas. Ele começou a cultivar vegetais em seu quintal no ano passado para alimentar sua família de quatro pessoas.

Gastava quase 2.000 pesos (US$ 41) por semana com carne. Agora, não compra quase nada.

— Agora, estamos em uma dieta baseada principalmente em vegetais e me sinto mais saudável — disse ele.

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Em algumas partes do mundo, a mudança para uma dieta baseada em vegetais está ocorrendo em meio à proliferação de mais alternativas, como os hambúrgueres vegetarianos Beyond Meat. Mas em outros, é apenas uma abordagem básica de comer mais feijão e vegetais.

Em qualquer um dos casos, os defensores do clima podem se alegrar com a mudança do consumo de carne. A agricultura é responsável por mais emissões globais de gases de efeito estufa do que o transporte, graças em grande parte à produção de gado.

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Combate à desnutrição

Mas essa mudança não pode ser vista como algum tipo de bem universal. Na verdade, para muitos, renunciar à carne está exacerbando uma das desigualdades mais profundas do mundo: quem obtém comida suficiente com fontes suficientes de nutrição, e quem não tem.

O acesso insuficiente ao gado e a outros alimentos de origem animal é um fator importante por trás das altas taxas de desnutrição que persistem em muitas partes da Ásia e da África, alertou a ONU Nutrição em junho.

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"Legumes, frutas, legumes e cereais são essenciais. Mas os produtos animais ricos em nutrientes são excepcionalmente eficazes para tirar crianças da beira da desnutrição aguda e crônica", disse, em um comunicado, Naoko Yamamoto, presidente da ONU Nutrição diretora-geral assistente da Organização Mundial de Saúde para cobertura universal de saúde.

No Brasil, sem carne na mesa

Esse é um ponto profundamente sentido por Fabiana Ribeiro da Silva, 36 anos, mãe de quatro filhos, que mora na periferia de Colombo, no estado do Paraná, no Sul do Brasil.

Antes da pandemia, o frango estava na mesa de jantar da família quase diariamente e a carne uma vez por semana. Agora, eles comem principalmente apenas arroz com feijão. Ela se preocupa com a  filha de 5 anos, que começou a perder peso.

— Ela não está comendo muito — disse Fabiana.

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Não há nenhuma base de dados que mostre a queda da demanda global por carne. Isso porque as medidas mais abrangentes estimam o consumo apenas em relação à produção. Supõe-se que, quando o suprimento estiver disponível, tudo será consumido.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação estima que o consumo global per capita de carne crescerá 1,2% em 2021, após contrair 0,7% no ano passado, com sua previsão impulsionada principalmente pela escala de recuperação da produção de carne suína da China.

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As gerações mais jovens estão cada vez mais preocupadas com a saúde e é mais provável que optem por menos carne ou frango, enquanto os restaurantes da moda e sofisticados agora servem opções baseadas em vegetais, disse Darin Friedrichs, analista do StoneX Group Inc. em Xangai.

Enquanto isso, a situação ficou crítica para Ricardo Lamboglia, que trabalha como açougueiro no bairro de Mataderos, em Buenos Aires. A área,  apelidada de Nueva Chicago por causa de suas raízes históricas semelhantes como um centro para matadouros e lojas de carne, costumava ser movimentada.

— A pandemia nos matou. Costumávamos vender de quatro mil a cinco mil  quilos por mês, e agora está mais para 2.000. As pessoas hoje em dia estão contando seus centavos —  disse Lamboglia.

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