Entre as características mais marcantes deste período de pandemia está o home office. Profissionais ao redor de todo o mundo precisaram sair de seus locais de trabalho para desempenhar suas atividades no ambiente doméstico. Em decorrência disso, equipamentos eletrônicos que contribuem no trabalho diário passaram a ser utilizados em casa e gerar uma preocupação. Um estudo organizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apontou que 67% da população tem constatado um aumento no valor da conta de energia elétrica, que encareceu com as atividades remotas e com o fato das pessoas estarem passando mais tempo em casa.
A pesquisa foi pensada a partir de um boletim divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que revelou um aumento no consumo de luz de imóveis residenciais, acompanhado de uma redução em estabelecimentos comerciais e industriais. Segundo o engenheiro eletricista Liader Oliveira, que trabalha no Laboratório de Inspeção de Edificações em Eficiência Energética (Linse-UFPel) e participou do planejamento da pesquisa, os resultados refletem as consequências do isolamento social. "As pessoas passaram a ficar mais tempo em casa. Antes, trabalho e estudos eram fora do ambiente doméstico. Com o teletrabalho, a gente percebeu através da pesquisa que houve esse aumento", afirmou Oliveira.
Durante este tempo, muitos precisaram montar verdadeiros escritórios em casa para poder trabalhar. Adaptações foram feitas para procurar gerar um ambiente de trabalho num espaço doméstico. Estas mudanças causaram impactos nas contas residenciais. Um dos profissionais que passou por esta situação e que percebeu um aumento nos valores de energia foi Gustavo Ribeiro, de 23 anos. Ele atua em uma empresa do ramo tecnológico e precisou deslocar o espaço de trabalho para dentro de casa. E os reflexos disso são perceptíveis nos aparelhos eletrônicos. "O home office tem algumas facilidades, como trabalhar em um ambiente mais silencioso e integrado às rotinas de casa. Por outro lado, é complicado no sentido de ficar 100% do tempo em um só ambiente, sem o contato humano. Alguns aparelhos que eu raramente utilizava, como o ar-condicionado, por exemplo, passou a ser usado com muito mais frequência", explica. Ele ainda pontua que não percebeu um aumento no número de aparelho, porém, os que já eram ligados têm ficado mais tempo conectados. "No meu caso, o computador fica 100% do tempo ligado", afirma.
Vilões
Os computadores foram considerados os vilões do aumento das contas de luz pelos entrevistados. A pesquisa apontou que as pessoas constataram aumento na utilização neste tipo de equipamento. "Embora não seja o equipamento de maior potência dentro de casa, a gente percebeu que as pessoas atribuíram aos computadores. Por ficarem mais tempo ligados, por serem mais utilizados em comparação a outros equipamentos, ficou esta sensação. O próprio mercado de computadores também cresceu, há uma procura maior", explicou Oliveira. Neste contexto, o mestrando em arquitetura na UFPel, Rodrigo Leitzke, confirma que o computador tem passado mais tempo em funcionamento por causa das demandas da profissão. "Eu trabalho com simulação computacional, então tenho muita coisa no computador, que tem sido um grande vilão. Sem falar de outros equipamentos como monitores, iluminação. Minha conta subiu mais de 20% em relação ao ano passado", conta o mestrando.
Outro equipamento que tem somado no valor das contas são as jarras elétricas. Antes, bebidas como cafés, chás e chimarrão eram comuns no ambiente de trabalho. Sendo realizadas em casa, elas geram um acréscimo no preço da energia. "Antes, eu usava a jarra apenas uma vez. Tomava um café antes de ir trabalhar e não usava mais. Hoje, estando em casa o tempo inteiro, tomo um café após o almoço e outro durante à tarde, que eu normalmente tomaria no ambiente de trabalho. Então, a jarra fica ligada por mais tempo e também contribui com este aumento", conta Leitzke.
Questão jurídica
Neste modelo de home office, uma parcela expressiva de profissionais passou a custear o seu trabalho e, muitas vezes, utilizar equipamentos próprios para realizar suas tarefas. Esta condição pode fazer com que os trabalhadores entrem na justiça pedindo uma indenização para cobrir os gastos que tiveram para viabilizar suas atividades. Porém, são ações complexas. Segundo o presidente da Associação de Magistrados do Trabalho do Rio Grande do Sul (Amatra-4), Tiago Mallmann, o home office quebra a premissa de que os meios de produção são de responsabilidade do empregador, mas a justiça tem avaliado os casos em suas especificidades e considerado o caráter excepcional da pandemia. "Nós temos várias categorias que entram na justiça pedindo indenização. Os meios de produção são do empregador, ele é quem empreende e arrisca no mercado. É quem corre o risco, mas também é quem obtém o lucro. Essa transferência de gastos pode vir a gerar uma indenização, mas tudo tem que ser ponderado. Em tese, é possível, mas tudo precisa ser muito bem avaliado. Os juízes têm estudado caso a caso", explicou Mallmann.
O preço do home office | Economia - Diário Popular
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