Para Lia Valls, alta de preços de importação combinada com câmbio desvalorizado pode manter pressão de custos — Foto: Nilani Goettems/Valor
Como reflexo de gargalos logísticos e de produção que persistem no cenário global, os preços médios em dólar das importações aceleraram a alta nos últimos meses e superam os do período pré-pandemia. De agosto a outubro os preços médios dos desembarques brasileiros subiram 23,1% contra iguais meses de 2020 e 14,8% quando comparados a mesmo período de 2019. Em outubro o índice de preços do total importado foi o maior para o mesmo mês desde 2013. Os dados são do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) e fazem parte de boletim que deve ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O comportamento contribui para achatar os termos de troca - relação entre o índices de preços de exportação e o de preços de importação - e o saldo da balança comercial, ainda que se espere um superávit robusto para 2021. A mediana do Valor Data com projeções coletadas na última semana com 11 consultorias e instituições financeiras indica superávit de US$ 65 bilhões ao fim deste ano.
A evolução mais recente de preços de importados também desperta preocupação com a inflação. Para a economista Lia Valls, pesquisadora do Ibre, o aumento de preços das importações combinado com a desvalorização cambial pode manter pressão de custos, embora o tamanho de seus efeitos dependa de como isso será absorvido e se será repassado a preços.
Os preços dos bens intermediários, que representam cerca de 65% do valor importado pelo Brasil, subiram em média 14,6% de janeiro a outubro deste ano contra iguais meses de 2020, pelo Icomex. De agosto a outubro, a alta média de preços na categoria foi de 28,1% ante mesmo período de 2020.
O desempenho de preços das importações dos últimos meses altera a dinâmica das compras externas, cujo recuperação neste ano vinha puxada mais pela elevação de volumes desembarcados, lembra Lia. As importações brasileiras somaram US$ 177,3 bilhões de janeiro a outubro deste ano, com alta de 38,3% contra iguais meses de 2020, segundo dados do governo federal. Nesse período, indica o Icomex, foi o volume importado que teve a maior contribuição para esse avanço, com expansão de 24,7%, enquanto os preços subiram 10,9%.
Nas comparações mensais com iguais períodos do ano passado, os preços médios das importações totais caíram nos dois primeiros meses de 2021 e após um período de estabilidade começaram a subir em abril, passando a rodar acima de 20% desde agosto. Esse movimento contribuiu para reduzir os termos de troca, que vinham em tendência ascendente desde junho de 2020 e passaram a ter queda mais clara desde agosto deste ano, diz Lia.
Mesmo assim, diz a economista, considerando janeiro a outubro, essa relação ainda está 17,5% acima da registrada em iguais meses de 2020 Na mesma comparação, aponta, os preços de exportação tiveram alta de 30%. O achatamento dos termos de troca, lembra ela, também é resultado da desaceleração de preços na exportação em razão de ajustes em produtos importantes embarcados pelo Brasil, como o minério de ferro.
Do lado das importações, diz Yasmin Riveli, economista da Tendências, preços mais fortalecidos devem continuar no curto prazo. Há, diz, aumento generalizado de preços no Brasil e no mercado internacional como reflexo de choques de oferta resultantes de quebras de cadeia de produção, principalmente do setor energético.
No setor agrícola, Yasmin destaca os adubos e fertilizantes, que devem ter demanda mantida em alta em razão da expectativa favorável para grãos na safra 2021/2022. Há muita dependência de importações nesse segmento, explica a economista, e os preços desses produtos são influenciados pelo aumento expressivo das cotações de potássio e gás natural. Há ainda, diz ela, a alta do petróleo e seu impacto em óleos combustíveis e derivados de petróleo. Enquanto algumas commodities como minério de ferro e soja já devolvem a alta de preços, aponta, o petróleo ainda continua com preços altos em razão da queda de estoques e da decisão de países produtores de seguir com aumentos modestos da produção até abril de 2022, além da retomada da demanda global e da forte alta de preços também de produtos substitutos, como gás natural e carvão.
A alta de preços nas importações, avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), deve-se manter enquanto os gargalos logísticos e de produção no cenário internacional não forem superados, num cenário que deve perdurar ao menos até o primeiro trimestre do ano que vem.
O impacto dos preços de importação na inflação, diz Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, depende de como se dará a absorção da pressão de custos. No setor agrícola, há variáveis, como a produtividade, apontam, que são importantes. Nos bens industriais, os dados mostram que pode haver pressão de custos a despeito de uma esperada demanda redirecionada de bens para serviços, fazendo com que a volta a um patamar de inflação mais próximo de 5% ao ano seja mais gradativa do que se imagina.
Preço de importado acelera e supera nível pré-pandemia - Valor Econômico
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